09 julho, 2008

Senta aqui

Quando me pego a observar o marasmo, noto que não é o meu passado que me condena, visto que ele é o responsável por alguns de meus sacrilégios de nostalgia. O que realmente está prestes a armar uma sentença para mim é o presente. Maldito o seja. Minha sinceridade me aniquila. Cometo constantemente suicídios emocionais, eu desperdiço minha vida. Eu deito na minha cama e imagino tudo o que pode acontecer, enquanto não toco de verdade na vida para não cansar demais e depois não ter forças para viver a verdade. E qual é a verdade? A desgraçada se disfarça, eu não tenho dificuldade de enxergar o obvio – tudo bem que nasci meio míope, mas é um charme natural, ué.

Encontro-me em um caminho errado, uma estrada de mão única. Me diz o que é sossego que eu te mostro alguém afim de te acompanhar...Prometo não conversar, creio que você irá se habituar com meu silencio e com minhas frases mal acabadas, não que eu não seja capaz de conversar, apenas não quero ter que te contar o que sou. Considerando as circunstâncias, vou precisar de mais do
que estar só bem certa. Está bem, vou estar bem certa pra valer!

Existe até quem me ache legal, mas na verdade eu sou insuportável. Tenho hábitos e manias que certamente as pessoas só agüentam por delicadeza ou amor. Sofro de tênue transtorno bipolar; isto significa que alterno ocasiões de histérica suposta alegria com depressões inexoráveis (o que, na Idade Média, costumava-se chamar carinhosamente de possessão demoníaca). Defendo teses estapafúrdias, considero qualquer coisa que eu goste a melhor do mundo, qualquer coisa que não goste a pior e procuro, a todo custo, fazer com que os outros tenham a mesma opinião. Eu estou certa e você errado e ponto. Sou uma espécie de acionista majoritária da verdade e da razão. Como se não bastasse, acordo de madrugada para preparar sanduíches e conseqüentemente, acabo esquecendo as luzes acesas ou produzindo ruídos incompatíveis com o horário. Falo muito palavrão e o "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor – nunca gostei de intelectuais que não soubesse xingar. Sou considerada um mau-exemplo e isso me excita.

Não tenho talento algum, embora o eu viva abraçada ao caos e brigue por conseqüências, é divertido o espanto que causo nas pessoas, eu sou quase uma aberração sentimental, vivo da patologia interior. Sei que tem muitas evidencias que comprovam o quanto deixei estar, eu não me importo. A minha relação com o mundo é um fracasso e isso me diverte. Meu único desespero é meu relacionamento com o tempo. Pessoas costumam me causar sono. Sou uma covarde, muito covarde. Embora ninguém consiga por algemas em mim, só me resta esperar o julgamento. Sente aqui e espere comigo. Não que sua companhia me agrade, eu só preciso de alguém pra pôr a culpa.

Inocente, até que se prove o contrário. Ou não.



18 comentários :

Padma Norbu disse...

O sossego está no silêncio mental.

Igor Palhares disse...

O necessário é não condenar, nem julgar. Somos uma raça em exintinção, garota. Se matarmos, nos levarão para a cadeira eletrica, e nos matarão.

A diferença é que eles fazem justiça?

Igor Palhares disse...

Extinção*

Ígor Andrade disse...

Obrigado Luara!
Muito do que li aqui, sinto e vivo também. Li alguns textos seus, e confesso que depois que comecei não consegui parar. Voltarei para ler todo o resto.
Abraço!

Luara Quaresma disse...

Gostei dele, acertou meu nome (:

Maquinaria de Linguagem disse...

hola, gostei de sua escritura, dessa coisa intempestiva da palavra mexer com o teu corpo e com as coisas que você pensa em relação à vida. Se não cansar do tempo muito texto ainda produzirá. Escreve bem. Abraço

Maquinaria de Linguagem disse...

Vou ler os outros textos depois.

teca disse...

estranho, mas as vezes eu me sinto exatamente igual a vc...

foi um dos melhores textos q vc já escreveu!



beeeeijo

Pedro Ivo Martins Brandão disse...

Muito prazer, Luara.

Você parece conhecer bem de si mesma, ein. Já tem a auto-crítica que a maioria só enxerga com a idade. E ainda escreve bem. Parabéns.

Li bastante e prometo voltar nas escapadas. Abraço, Pedro.

Luara Quaresma disse...

É, chamo de velhice precoce.

Camila Dayan disse...

Olá, Luara,

Obrigada pela visita e o comentário no D'propósito, agora, uso de suas palavras as minhas: 'você escreve muito bem'. Gostei do que vi por aqui, há um sentimentalismo que só quem 'sofre de tênue transtorno bipolar' é capaz de ter e se colocar no mundo.
Apesar de não te conhecer, enxergo aqui uma personagem que é metade de você...
;)

Beijo D'propositado

ps: como achou o D'propósito ?

Anônimo disse...

viver intensamente é estar e ser ebolição a cada instante, mesmo no silêncio, por vezes necessário. viver contradições e certezas nos fazem mais incertos e inconclusos, mas, sobretudo, nso tornamos mais humanos. abraços.

Luara Quaresma disse...

Se isso foi o que decidi ser, aceito a condição.

Bonie disse...

É.

Nada me faz pensar que você se importa com o que eu penso. Mas eu penso, então digo.

Digo que gostei daqui, que eu também aprendi a ler mais cedo que todo mundo, que eu também sempre achei mais inteligente - e mais fácil - escrever. E que gostei do elogio, obrigada :D

By the way, você também tem talento. Voltarei, com certeza.

Marta disse...

E eu sou egoísta:
O melhor de mim o pior dos outros!

O silêncio?
Meu melhor amigo!
Talvez o unico, já não sei

Mas as tuas palavras marcaram-me, cheias de dinamismo

Um Beijo*

Henrique Monteiro disse...

Hehe, um dia tu acha alguém à altura. Daí será a vez de sentar ao lado de alguém, apenas para ser a culpada.
Mas relaxe, cada nova fase nos traz também uma nova forma de satisfação, e acredite, admitir a culpa dos outros para si também é gratificante - ver como a pessoa é fraca e você é forte, é gratificante.

Mas isso depende de tudo... ou quase isso.

Nathália E. disse...

"Existe até quem me ache legal, mas na verdade eu sou insuportável." - Olá, irmã gêmea perdida.

Sei exatamente como se sente.

:*

Luara Quaresma disse...

Acredite, voce não ia querer me ter como irmã.